16 de outubro de 2008

Nossas Relíquias!



Estes dias estive em uma farmácia de manipulação pra pegar um remédio, enquanto eu esperava percebi uma movimentação muito estranha das funcionárias, e um cochicho entre elas. Comecei a prestar atenção pra ver o que estava acontecendo. Até que ouvi um comentário de uma das meninas “Tem algo errado, ela esta aqui desde as oito e meia da manha.” Depois deste comentário ela se dirigiu até uma senhora que estava sentada em uma das cadeiras da espera e perguntou se ela estava sentindo alguma coisa, já que estava la a tanto tempo sentada(já era meio dia) e já tinha pego o seu remédio, a velha senhora respondeu que não estava sentindo nada, que estava bem, só estava esperando a filha vir buscá-la. A funcionaria então perguntou se ela não gostaria de ligar para filha, e velhinha disse que não, que não podia ligar porque filha não gostava de ser incomodada. A moça, então disse que ela ficasse a vontade e que se quisesse ou precisasse de algo fosse até ao balcão falar com ela.
Achei a atitude da funcionária muito humana, e realmente sua expressão declarava que ela estava preocupada, mas não foi isso que mais me chamou a atenção. Por mais que tenhamos que valorizar as boas atitudes das pessoas, eu realmente fiquei chocada, e tinha uma vontade de chorar imensa olhando àquela senhora, que mal conseguia se manter nas próprias pernas esperando a filha vir buscá-la. Que tipo de pessoa deixa a mãe esperando 3 horas e meia em uma farmácia, afinal um remédio não demoraria mais de 10 minutos pra ser entregue.
Minha vontade era sentar do lado daquela criatura e conversar, e tentar fazer com que o tempo passasse mais rápido pra ela. Não tive coragem, mas quando a estava saindo vi a filha dela se aproximando, e ainda gritou dizendo que era para ter esperado do lado de fora da farmácia. Como assim??? Três horas e meia em pé em frente a farmácia? Nesta hora minha tristeza deu lugar para a minha ira, tive vontade de segurar a mulher pelo braços, sacudi-la e dizer que ela cuidasse melhor da mãe dela, e que eu torcia, do fundo do meu coração que os filhos dela, pelo menos uma vez na vida, fizessem com ela o que ela estava fazendo com a mãe, pra que ela sentisse na pele o quanto é ruim.
Claro estou declarando isso a vocês, mas eu sai da farmácia fingindo que não tinha visto nada. E comecei a pensar, eu moro com uma pessoa idosa, sei o quanto às vezes é trabalhoso, mas sei também que na maioria dos momentos é gratificante. Não só pelos mimos que eu tenho, mas pelas conversas, pela experiência que fala enquanto eu almoço, pelas trapalhadas que a minha velinha faz, que as vezes também me dão raiva porque não sou de ferro, mas geralmente em seguida vem o humor, porque pode ser a maior trapalhada do mundo, que sempre acaba sendo engraçada.
E ai me pergunto, e esta questão não sai da minha cabeça. Porque certas pessoas vêem os velhos como peças prontas a serem descartadas do jogo? Eu aprendo tanto com a minha senhora, eu me divirto tanto, e no fim ela é quem ainda me da segurança de seguir em frente e ter a certeza que quero chegar aos meus 80 anos como ela. Às vezes não nos damos conta de que ter um idoso em casa, é como ter uma relíquia, um tesouro. Se um dia tiveres vontade, experimente conversar com alguém bem mais velho, a preciosidade deles esta nas estórias que contam, nas experiências que nós ainda nem imaginamos viver, nas historias que aprendemos na escola e que eles foram testemunhas vivas, esta na magia de ver seus olhos brilharem quando escutam uma musica antiguíssima ainda na vitrola, porque pra eles nada como um bom disco de vinil, ou ainda quando olham fotos antigas e dizem “viu minha filha como eu era bonita?”...Eu sempre respondo “te gosto muito mais agora vó”, afinal ela sempre vai ser a minha velinha de cabelos brancos que estudou até a 5º serie mas digitou tantas teses de mestrado e doutorado que conhece palavras em línguas que eu nem imagino que existam.
Bom, isso foi mais um desabafo, mas serve pra começarmos a prestar atenção no que as pessoas estão fazendo com nossas relíquias, como as estão tratando, se as estão valorizando ou não. Elas podem não ter nenhum valor financeiro, mas mais valioso que o amor não existe nada no mundo, e estas relíquias sabem manter este bem muito vivo em nós!

5 comentários:

Anônimo disse...

Gostei do post, sinto muita falta dos meus avós, que partiram muito cedo, diga-se de passagem, e presenciei um tipo de abuso cruel tbm com uma senhora muito indefesa nos últimos tempos, e tbm vi o quanto as pessoas não respeitam nem tem carinho por pessoas tão valiosas, que talvez mais cedo do imaginamos, não estejam mais em nossas vidas...
Um beijo flor

Anônimo disse...

viva a Dona Nagila....

fiquei chocada com a historia, realmente tem pessoas q naun dão valor....
Mas eu nem preciso lembrar dos direitos dos idosos, pq meu pai me lembra toda hora...heheheheh

beijossss

Thomás Gomes Gonçalves disse...

ese formos pensar que as vezes isso nao eh nada que fazem com os idosos, ja trabalhei em asilo e é horrivel a situaçao de abandono que eles sofrem... uma lástima

Anônimo disse...

Olá! Obrigado pela visita no Opas&Obas!. Tb curti o seu blog. Voltarei mais vezes!

Janice Coelho disse...

:~ saudade da minha vó!